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Pesquisadores desvendam segredos de Luzio, esqueleto humano mais antigo de SP

Fóssil de 10 mil anos descende da mesma população que deu origem a todas as populações indígenas das Américas
Por History Channel Brasil em 01 de Agosto de 2023 às 12:37 HS
Pesquisadores desvendam segredos de Luzio, esqueleto humano mais antigo de SP-0

Novas análises de DNA revelaram segredos de Luzio, o esqueleto humano mais antigo encontrado em São Paulo. A pesquisa também ajudou a desvendar como desapareceram as mais antigas comunidades litorâneas brasileiras, responsáveis pela construção dos sambaquis (enormes montes de conchas e ossos de peixes erguidos na costa). Um estudo sobre as descobertas foi publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution. 

Ameríndio

O estudo, cujo primeiro autor é o biólogo Tiago Ferraz da Silva (USP), baseou-se na extração do genoma de 34 amostras de fósseis descobertos em quatro regiões diferentes da costa leste do Brasil, com até 10 mil anos de idade. Entre o material analisado, está o esqueleto de Luzio, encontrado no sambaqui ribeirinho Capelinha, no Vale do Rio Ribeira de Iguape (SP). Devido a sua morfologia craniana semelhante à de Luzia (fóssil humano mais antigo da América do Sul, com cerca de 13 mil anos e que apresenta características parecidas com as dos atuais aborígenes e africanos), pesquisadores acreditavam que ele pudesse pertencer a uma população biologicamente diferente dos indígenas atuais (ameríndios), mas as análises apontaram outro resultado.

Sambaqui Figueirinha I, em Jaguaruna (SC)
Sambaqui Figueirinha I, em Jaguaruna , Santa Catarina (Imagem: Thigruner/Domínio Público, via Wikimedia Commons)

“A genética mostra que Luzio é um ameríndio, assim como um tupi, um quéchua ou um cherokee”, disse André Menezes Strauss, arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador sênior do estudo, em entrevista a Julia Moióli, da Agência FAPESP. “Isso não quer dizer que sejam iguais, mas que, em uma perspectiva global, todos derivam de uma única leva migratória, que chegou à América há não mais de 16 mil anos e, se houve uma outra população por aqui 30 mil anos atrás, ela não deixou descendentes entre esses grupos”, completou.

As amostras de DNA também ajudam a entender o desaparecimento dos povos sambaquieiros. Ao contrário do que ocorreu no Neolítico europeu, quando houve um processo de substituição populacional total, acredita-se que no Brasil aconteceu uma substituição gradual na cultura sambaquieira, com o declínio na construção de sambaquis e a introdução da cultura ceramista. Além disso, mudanças ambientais na costa diminuíram a qualidade de vida, afetando esses grupos humanos e contribuindo para o seu colapso. 

Recentemente, uma outra descoberta feita no Brasil sugere que os humanos chegaram nas Américas muito antes do que se imaginava. A hipótese é baseada em ossos de preguiça-gigante com furos, encontrados no sítio arqueológico de Santa Elina, no Mato Grosso. De acordo com um estudo assinado por cientistas da Universidade de São Carlos (UFSCAR), esses adornos teriam sido usados como pingentes por pessoas que viviam na região há cerca de 25 mil anos. 

Fontes
Agência Fapesp, via EurekAlert, e Veja
Imagens
André Strauss/MAE-USP/Divulgação