Segredos da mumificação no Antigo Egito são desvendados pela primeira vez
O processo de mumificação no Egito Antigo nunca foi completamente decifrado pela ciência. Agora, uma nova descoberta permitiu que pesquisadores egípcios e alemães conseguissem desvendar segredos inéditos sobre a química envolvida no embalsamamento. Os resultados foram publicados em um estudo na revista Nature.
Rótulos e instruções
Em colaboração com o Centro Nacional de Pesquisa no Cairo, uma equipe de pesquisadores da Universidade LMU, de Munique, e da Universidade de Tübingen analisou os resíduos químicos encontrados em vasos de uma oficina de embalsamamento em Saqqara. O local foi usado para mumificar os mortos entre os séculos VII e VI a.C. O mais incrível é que os vasos encontrados continham "rótulos" indicando sobre seu conteúdo, além de instruções de uso.
“Conhecemos os nomes de muitos desses ingredientes de embalsamamento desde que os antigos escritos egípcios foram decifrados”, diz Susanne Beck, da Universidade de Tübingen, que liderou a escavação. “Mas até agora, só podíamos adivinhar quais substâncias estavam por trás de cada nome”, completou. A análise do resíduo químico nos vasos permitiu isolar e identificar os restos moleculares das substâncias que eles continham.
“A substância rotulada pelos antigos egípcios como antiu há muito foi traduzida como mirra ou incenso. Mas agora conseguimos mostrar que na verdade é uma mistura de ingredientes muito diferentes que conseguimos separar com o auxílio de cromatografia gasosa/espectrometria de massa”, disse Beck. A análise revelou que o antiu usado em Saqqara, na verdade era uma mistura de óleo de cedro, óleo de zimbro/cipreste e gorduras animais.
A comparação das substâncias permitiu agora, pela primeira vez, determinar exatamente quais delas eram usadas para embalsamar certas partes do corpo. A resina de pistache e o óleo de rícino, por exemplo, eram usados apenas na cabeça. “O que realmente nos surpreendeu foi que a maior parte das substâncias usadas para embalsamamento não era do Egito. Algumas delas foram importados da região do Mediterrâneo e até mesmo da África tropical e do Sudeste Asiático”, disse Philipp Stockhammer, arqueólogo da LMU. Isso indica como as relações comerciais já eram globalizadas há quase três mil anos.