Cientistas desvendam mistério do desaparecimento da água em Marte
Marte nem sempre foi um planeta árido e empoeirado. Os cientistas acreditam que, há bilhões de anos, rios e córregos percorriam a superfície marciana. Parte dessa água teria se infiltrado no subsolo, mas o destino do restante do líquido sempre foi um mistério que pode ter sido desvendado agora.
Escape de átomos
Em um novo estudo publicado na revista Science Advances, pesquisadores usaram dados coletados pelo telescópio espacial Hubble e da missão MAVEN, da NASA, para tentar entender o processo enigmático. "Existem apenas dois destinos possíveis para a água: congelar no solo ou suas moléculas se dividirem em átomos, que escapam para o espaço", explicou John Clarke, líder do estudo e pesquisador da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. Segundo ele, para entender quanta água existiu e como desapareceu, é essencial compreender como esses átomos escapam.
Os dados combinados do Hubble e do MAVEN serviram de base para a equipe analisar a taxa de escape dos átomos de hidrogênio em Marte. Essa análise permitiu projetar o comportamento desses átomos no passado e estudar a evolução da água no Planeta Vermelho ao longo do tempo. A decomposição das moléculas de água pela luz solar cria átomos de hidrogênio e deutério, sendo que este último, por ser mais pesado, escapa de forma mais lenta.
Ao observar o aumento da relação entre deutério e hidrogênio, os cientistas conseguem inferir a quantidade de água presente durante os períodos mais úmidos de Marte. A equipe descobriu que as taxas de escape desses átomos variam conforme a posição de Marte em relação ao Sol, especialmente quando o planeta se aproxima da estrela, o que acelera a liberação dos átomos na atmosfera.
O estudo revelou que a atmosfera de Marte é mais dinâmica e turbulenta do que se pensava anteriormente, com condições mudando em escalas de tempo tão curtas quanto horas. As rápidas mudanças nas taxas de escape desses átomos sugerem que fontes adicionais de energia, como o vento solar ou reações químicas impulsionadas pela luz solar, desempenham um papel no processo de escape, oferecendo pistas sobre o destino da água marciana.
"No geral, os resultados apresentados aqui oferecem fortes evidências de um período quente e úmido com abundância de água no início de Marte e uma grande perda de água para o espaço ao longo da vida do planeta", concluíram os pesquisadores no estudo.